As namoradas Laura Coelho e Lorrana Araújo, além da amiga Míriam Clara, relataram ter sido vítimas de caso de lesbofobia e ameaça, em Itabuna, no sul da Bahia. No sábado (14), um bilhete foi deixado no prédio onde elas moram, chamando-as de "sapatão" e com ameaça de incendiar o carro que elas usam, caso não se mudassem do local em dois dias.
Em conversa nesta segunda-feira (15), Laura contou que elas moram em um prédio, no centro de Itabuna, desde novembro de 2019, e que nunca tiveram problemas.
Laura, Lorrana e Miriam dividem o apartamento. As três decidiram celebrar o aniversário de Míriam entre elas e, por volta das 19h, bebiam cerveja e ouviam música quando receberam uma mensagem de uma vizinha, que as comunicou sobre a presença do bilhete.
“Se mude. Avizo (sic), sapatão. Dois dias de aviso. Vou tocar fogo nesse carro vermelho. Cuidado”, dizia o bilhete endereçado a elas.
Estudante de história na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Laura conta que o carro é de um amigo, mas elas costumam utilizar. O veículo estava estacionado próximo ao prédio. Após o ocorrido, a universitária relata que teve medo.
“O bilhete estava colado na porta de entrada do prédio, na parte interna. Pegamos o bilhete e subimos. Ficamos muito chocadas e pensamos em quem poderia ter feito isso, mas não conseguimos pensar em ninguém, porque sempre tivemos uma ótima convivência com as pessoas aqui. A gente chorou de medo, pensando no que poderia estar acontecendo”, disse a universitária.
Elas registram ocorrência junto à Polícia Civil — Foto: Arquivo pessoal
As três registraram boletim de ocorrência na delegacia de Itabuna. O caso foi descrito como injúria, que prevê pena de um a seis meses de detenção, além de aplicação de multa. Os policiais recomendaram que a queixa fosse notificada também na Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher do município, o que as três planejam fazer ainda nesta segunda-feira (15).
“A gente está com muito medo. Porque não fazemos ideia de quem seja essa pessoa, mas deve ser alguém que mora por aqui, que vê a gente juntas. Mas não sabemos a cara da pessoa. A gente já estava ficando em casa, mas agora fecha as janelas dos quartos, com medo de ter alguém olhando. A gente está ficando em casa o tempo todo. Desde que ocorreu, só saímos para ir na delegacia, acompanhadas de outras pessoas. Porque sozinha a gente não saiu”, relatou Laura.
“Querendo ou não, a pandemia deixa a rua mais vazia e mais propicia de acontecer algum ataque. Quanto mais a gente pensa, mais gente fica preocupada”.