O medo de um eventual rompimento de uma barragem da Vale, na mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais (MG), adoeceu a população. A prefeitura afirma que o número de atendimentos médicos cresceu 35% desde que aproximadamente 450 pessoas tiveram que evacuar parte do município, em fevereiro.
"Uma onda invisível de lama". É assim que o prefeito de Barão de Cocais, Décio Geraldo dos Santos (PV), define a situação que a cidade vive atualmente. Um mês atrás, os moradores iniciaram uma espécie de contagem regressiva para uma possível tragédia envolvendo uma barragem Sul Superior. Desde então, muitos moradores adoeceram e outros tiveram prejuízos na renda. O drama na família de Ana Rita de Souza começou quando teve que evacuar a casa onde morava, porque o imóvel fica muito perto da barragem que está em risco.
“A minha saúde já não era muito boa, porque eu sou hipertensa. E daí em diante só foi piorando. Eu cheguei a ficar internada na cidade de Caeté. Eu não tenho aquele sono que eu tinha. A gente fica assustado com qualquer coisa. Você sente angústia, tristeza, porque você lembra da sua casa, da sua vida que você tinha lá. Não é a mesma”, disse.
A Vale paga alimentação e moradia para as famílias evacuadas desde fevereiro. Recentemente as comunidades reivindicaram e conseguiram que a empresa enviasse dinheiro para as pessoas comprarem agasalhos. Isso porque o frio em Barão de Cocais é intenso e as roupas estão presas nas casas interditadas.
O prefeito afirma que, além do crescimento de 35% no número de atendimentos médicos, as consultas psicológicas aumentaram 60%. Na avaliação dele, a Vale deveria tomar medidas em relação à sobrecarga nos serviços públicos.
“A mina deu bilhões de lucro para ela [Vale] e o mínimo que ela pode fazer é compensar a população. Nos três primeiros meses que nós estamos convivendo com isso, tivemos no hospital 6 mil atendimentos a mais. Dois mil por mês a mais. Nós perdemos duas unidades básicas de saúde que ficaram nas comunidades que tiveram que ser evacuadas. Nós temos um número aumentado de pessoas infartadas, com depressão, com hipertensão”, afirmou.
O clima pesado em Barão de Cocais piorou no dia 20 de maio quando a Agência Nacional de Mineração (ANM) avisou que seria inevitável o desabamento de um paredão de uma mina da Vale na cidade. E os abalos provocados por essa estrutura poderiam fazer a barragem se romper.
No final de maio, parte do talude escorregou sem provocar danos. Mesmo assim, a Defesa Civil de Minas Gerais garante que as autoridades de segurança continuam em alerta máximo porque o restante do paredão ainda vai desabar. Mas não se sabe quando.
A prefeitura de Barão de Cocais afirma que a Vale já repassou R$ 2,85 milhões ao município para minimizar os impactos na população. Mas o Executivo municipal considera que esse recurso é apenas uma compensação e ainda não resolve o problema.
Em resposta às críticas, a Vale informou que fechou um convênio com a Secretaria Municipal de Saúde no valor de R$ 5,66 milhões. A empresa afirma que até agora mobilizou mais de 70 profissionais de saúde para atender as famílias que tiveram que evacuar suas casas. A Vale também cita que repassou recursos para a Secretaria Municipal do Meio Ambiente para a realização de limpeza urbana, entre outros serviços.
No dia 28 de junho, está marcada uma audiência de conciliação entre a mineradora, a prefeitura e o Ministério Público para discutir demandas e direitos da cidade de Barão de Cocais.
Parte de talude de mina da Vale se desprende em Barão de Cocais nesta sexta-feira (31). — Foto: Reprodução/TV Globo