A Justiça da Bahia aceitou a denúncia do Ministério Público do estado (MP-BA) e o barbeiro suspeito de matar o mestre de capoeira Moa do Katendê a facadas, em Salvador, se tornou réu. A informação foi divulgada pelo Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) nesta terça-feira (23). A denúncia foi aceita na segunda (22).
Documentário sobre Mestre Moa do Katendê é lançado em Salvador
Pela morte de Moa, Paulo Sérgio Ferreira de Santana, de 36 anos, é acusado de homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e impossibilidade de defesa da vítima. Já por ferir o primo da vítima, Germino do Amor Divino Pereira, de 51 anos, que tentou defender o capoeirista das agressões, o barbeiro é acusado de tentativa de homicídio duplamente qualificado.
O caso está no 1º Juízo da 1ª Vara do Tribunal do Júri. De acordo com o TJ-BA, o processo está no início e, somente após a instrução com oitiva de todas as testemunhas, tanto de acusação quanto de defesa, e interrogatório do réu, é que se define se ele vai ou não a júri popular.
Caso
O crime ocorreu na madrugada de 8 de setembro, horas após a votação do primeiro turno das eleições. As vítimas e o suspeito estavam em um bar, no Engenho Velho de Brotas. A investigação da Polícia Civil concluiu que Paulo e Moa brigaram por disputa política.
Segundo a polícia, o capoeirista, de 63 anos, teria criticado o candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL), gerando o desentendimento com o suspeito. Os dois discutiram em voz alta e “agrediram-se mutuamente de forma verbal”, conforme o MP.
Em seguida, ainda segundo o órgão, Paulo Sérgio saiu do estabelecimento em direção à casa dele, onde pegou uma faca tipo peixeira e retornou ao bar para agredir Moa do Katendê. A vítima foi atingida por 13 facadas. Conforme o MP, a maior parte dos ferimentos foi no pescoço e no tórax do capoeirista.
Em depoimento, no entanto, Paulo Sérgio negou que o crime tenha sido motivado por política. A versão, contudo, é contestada pela polícia, que diz que testemunhas confirmam que a divergência política deu origem à discussão.
Paulo Sérgio está preso desde o dia do crime. Ele foi detido em flagrante, mas, no dia 9 de outubro, o homem passou por audiência de custódia e teve prisão preventiva decretada pela Justiça. O suspeito está no sistema prisional.
Homenagens
Desde que morreu, Moa do Katendê foi homenageado por diversos grupos culturais e artistas brasileiros e internacionais. Nomes como Gilberto Gil, Caetano e Roger Waters prestaram tributo ao capoeirista. Nesta terça-feira, o capoeirista ganhou um documentário.
Na noite de 17 de outubro, Waters chegou a chorar após exibir uma foto de Moa durante um show, em Salvador. Na manhã desta quinta, ele usou as redes sociais para comentar o caso novamente.
No dia 16, uma multidão lotou o Largo do Pelourinho, no centro da capital baiana, em um ato em homenagem a Moa.
Vestidos de branco, grupos de coletivos de identidades negras e capoeiristas participaram da mobilização após a tradicional missa celebrada às terças-feiras, na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Centro Histórico. Integrantes dos grupos Ilê Aiyê, Olodum e Filhos de Gandhy marcaram presença.
Uma faixa grande com a hashtag "Moa vive" foi colocada na fachada do Museu da Cidade.
O compositor, dançarino, capoeirista, ogã-percussionista, artesão e educador na propagação da cultura afro-brasileira completaria 64 anos de vida no dia 29 deste mês de outubro.